Manuel Campos Pinto
Chefe de Cabine na frota A319/320/321 na TAP Air Portugal.
Manuel Campos Pinto
Chefe de Cabine na frota A319/320/321 na TAP Air Portugal.
Em Março de 1998 entrei num A319 da TAP, era a minha estreia no modelo e ao entrar cumprimentei, como sempre o faço, quem me recebe a bordo e lembro-me de ter comentado “…este ainda cheira a novo…”! A “cara” que me saudou foi a da foto ao lado, com o mesmo sorriso cortês, simpatia de trato e discrição profissional que sempre caracterizou o meu amigo Manel Pinto. Infelizmente esse voo constituiu uma experiencia marcante, creio que, para os dois pois a cerca de meio caminho entre a Madeira e Lisboa uma passageira sofreu um acidente cardio-vascular.
Alguns meses depois, a minha participação no Portugal 98, e o crescendo na actividade “simmer” na net fez com que recebesse uma mensagem de um tal de Campos Pinto que dizia ser tripulante de cabine na TAP… Uma troca de mensagens cedo deu a perceber que, qual agulha no palheiro, tinhamos partilhado aquele voo e desde aí, mesmo tendo diferentes campos de interesse na simulação, somos bons amigos!
================= 1 – Quem é o Manuel Campos Pinto?
Nasci no Estoril há 53 anos, moro em Carnaxide, sou Chefe de Cabine da TAP (A319/A320/A321), onde trabalho há 29 anos, sou casado com uma Assistente de Bordo de quem tenho duas filhas, uma com 3 anos e outra com 8 meses.
================= 2 – Tendo uma carreira profissional ligada à aviação civil, qual o caminho que o levou até lá?
Desde miúdo que me habituei a ver passar os aviões por cima de casa para fazerem a travessia do Atlântico (DC-6, Super Constellation, etc). Dava para vê-los bem, pois ainda não iam muito alto, voavam lentamente e o ruído dos motores começava a ouvir-se ao longe, como que a avisar que era altura de ir para a janela. Depois, na minha juventude, passava as férias de Verão com os filhos dos tripulantes da KLM a quem o meu pai (que trabalhava num hotel onde ficavam as tripulações) alugava um apartamento. Quando fui para a tropa fiz a especialidade de Polícia Militar, após o que fui requisitado para a Polícia Aérea, tendo estado 2 anos em Moçambique na maior Base Aérea da província, o AB5 em Nacala. Portanto, daqui se depreende que o gosto pelos aviões aliado à vontade de conhecer novos países e novas realidades (na altura as pessoas não viajavam) me tenham “empurrado” para a aviação comercial. Poderão perguntar: “Porquê Comissário de Bordo e não Piloto?”. Sinceramente, naquela altura, sempre achei que nunca teria jeito. Quando tinha cerca de dois anos de companhia,houve um concurso interno para Técnico de Voo e tentei inscrever-me, mas recusaram-me porque era muito … novo. Hoje, a maioria dos meus colegas que foram aceites, são Comandantes.
================= 3 – Ao fim de mais de 25 anos de carreira certamente terá vivido alguns momentos divertidos dentro de aviões. Pode partilhar alguns connosco?
É verdade. Passei por algumas situações divertidas e “tenho” algumas estórias. Umas podem ser contadas, outras, nem por isso… Lembro-me de um voo em B747, Joanesburgo/Salisburia/Lisboa, alguns meses antes da independência da Rodésia, hoje Zimbabwe. Havia dois ou três movimentos independentistas e um deles era liderado por um tal Reverendo Sitole. Esse senhor embarcou em Salisburia (hoje Harare) na companhia do seu secretário e vinham instalados na primeira zona logo a seguir à 1ª classe. O voo era nocturno e não estava cheio. A meio do voo, eu estava no meu turno de serviço, no interior da galley e entra-me por ali dentro, esbaforido, o secretário do reverendo: “Roubaram a mala ao reverendo”. De imediato, pensei que estivesse com algum pesadelo, tal era o ar transtornado do indivíduo. Pedi-lhe que se acalmasse e me explicasse o que se tinha passado. Continuava a afirmar que a mala tinha sido roubada. Comentei com os meus colegas como é que alguém iria roubar uma mala no interior do avião, com tanta gente à volta. Chamámos o Supervisor e de imediato se acenderam as luzes e andámos todos de rabo pró ar à procura da mala, não fosse dar-se o caso de ter caído para baixo das cadeiras, corremos toda a cabine a ver se algum passageiro a tinha e … nada. O desespero do secretário aumentava. Passada quase meia hora um dos meus colegas chamou o Supervisor para que este se dirigisse ao upper-deck, pois estava lá um passageiro com um comportamento estranho. Fomos lá e deparámos com um passageiro português, ainda jovem, com indícios de perturbação mental, sentado e com uma quantidade de documentos em cima da mesa e a mala do reverendo no chão. ” Tenho que descobrir os planos destes comunistas…”
================= 4 – E a aviação virtual. Como é que chegou até ela?
Com o aparecimento dos Sinclair, lembro-me de ter ido a casa de um colega que tinha um e, entre os város jogos que lá tinha, havia um com aviões. Achei piada àquilo, mas pouco mais.Depois de terem surgido os primeiros PC’s resolvi comprar um PC1 da Olivetti (sem disco rígido!!!). Pouco tempo depois, numa ida a Nova Iorque, passei por uma loja de software e deparei com um escaparate cheio de caixas de um simulador de voo e que era o grande sucesso de vendas na altura. Lembrei-me do jogo que vira em casa do meu colega e resolvi comprar. Era o FS3!
================= 5 – Hoje a aviação virtual está muito para além do que poderiamos sonhar há meros 4 ou 5 anos… O que mais o impressionou nesta evolução?
É difícil responder, pois somos surpreendidos a cada dia que passa com as inovações que vão surgindo. Mas, sem dúvida, que o Autogen, o ATC, os AI, o Mesh Terrain são alguns dos factores mais impressionantes nesta evolução.
================= 6 – Dentro da aviação virtual quais os seus polos de interesse?
Como só voo em off-line, interessam-me as componentes que tornam o FS “as real as it gets”. Assim, fascinam-me os cenários (mesh e aeroportos), o ATC e os AI e, obviamente, os aviões que são o aspecto fulcral deste meu “vício”.
================= 7 – Diga-nos, quer em termos de “hardware” quer em termos de “software” qual o ambiente que costuma usar nos seus voos virtuais.
O hardware tem um peso importante no que atrás referi, pois sem um bom “equipamento” não se conseguem atingir as elevadas performances que a constante evolução do software permite.Assim, neste momento (daqui por algum tempo será, provavelmente, insuficiente) tenho um Pentium IV a 2.2MHZ, com uma motherboard ASUS P4T533-C, 512MB de memória e uma placa gráfica ASUS V8440 com 128MB de memória.Quanto ao software, no que diz respeito a aviões, sou fã do B737 da Dreamfleet e, mais recentemente, para os voos VFR, o Cessna 421. Utilizo os melhores aeroportos da Europa disponíveis (comerciais), o PPP (para quando LPPT?) e os mesh da Lago também para a Europa. Não posso passar sem o FS-Meteo e o FSNavigator e, recentemente, comecei a iniciar-me no Garmin.
================== 8 – A aviação virtual tem ganho nestes ultimos anos uma vertente “humana”. Como imaginava as pessoas que estavam “do outro lado” e o que pensa do “grupo” após o conhecer e tomar parte nele?
Após ter apanhado o “vício” dei comigo a pensar que já não tinha idade para isto, pois, supostamente, seria mais uma brincadeira de miúdos. Mas eu gostava e queria lá saber. Até que chegou a internet e a possibilidade de contactarmos a realidade e as pessoas nela envolvidas. E cheguei à conclusão que não era o único. Havia alguns (muitos) da minha idade e até mais velhos. E surgiu a possibilidade de começar a contactar os simmers portugueses e a conviver com eles. Hoje, que me sinto integrado na comunidade e conhecendo pessoalmente algumas dessas pessoas, tenho que reconhecer o quão gratificante é partilhar as experiências e interesses comuns.
================== 9 – Quer destacar alguma experiencia que considere interessante dentro das suas actividades virtuais?
As minhas actividades virtuais (leia-se FS) são o meu hobby, portanto, tudo o que esteja relacionado, é interessante.
================== 10 – Diz-se que o futuro a Deus pertence, mas se o Manuel Campos Pinto fosse Deus o que preconizaria para o futuro da avião virtual?
Está a colocar-me num patamar demasiado elevado querendo comparar-me a Deus… nem bruxo! Como não sou uma coisa nem outra e, na minha modesta condição de “viciado”, apenas posso preconizar, ou antes, desejar, que a evolução se mantenha (a mach .74) e cada vez nos aproxime mais da realidade (virtualmente, claro)
================== 11 – Normalmente todas as entrevistas têm a pergunta que falta… Diga-me qual seria essa pergunta e dê-nos aqui a sua resposta!
Retire lá esta que o entrevistado sou eu 😉
================== 12 – Para terminar, que pegunta gostaria de deixar à comunidade “simmer” nacional?
Não uma pergunta, mas uma mensagem: Faço votos para que o nosso jobby continue a ser motivo para nos aproximarmos, trocarmos ideias e relatarmos experiências, para proporcionar uma sã convivência, sem divisões nem protagonismos e aprendermos com quem mais sabe e está disponível para compartilhar esses conhecimentos, sabendo que assim poderemos elevar o nível da nossa comunidade.
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Miguel Branco da Silvakispo@netcabo.ptAirSim.Net TeamSimFlight.Com Portugal